Fernando Pessoa autoajuda?

Há um claro preconceito contra autores que são rotulados por “escritores de autoajuda”, como se os textos que contenham qualquer expressão que seja vista como “motivacional”, sejam apenas “autoajuda” e conversa encerrada. E, pior, por serem rotulados de “autoajuda” já nascem ruins e não há perdão para quem os escreve e, ainda condena quem os lê, ao rótulo de “menos inteligentes”.

 

Imagine o Alberto Caeiro, heterônimo famoso do ilustre Fernando Pessoa, se vivo fosse nestes tempos, digitando no seu “Insta“:

Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…

Seu Instagram vai “bombar” de comentários do tipo – “essa sua frase mudou o meu dia”. Milhares vão replicar, tornar capa do Facebook, ou status do WhatsApp

Mas, e sempre existe um “mas” para cada situação, os filólogos vestindo suas “capas de filósofos” empoeirados, dirão: isso é uma idiotice, pura autoajuda, um lixo, uma porcaria…
E recomendarão Camões em suas “sextilhas em decassílabo com rimas cruzadas, e sua variante.”

Mas, o Pessoa não se intimida, apesar de usar o seu heterônimo, Alberto Caeiro, solta mais essa no Insta:

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol

Ah! isso é “autoajuda pura” dirão os “filósofos guardadores da escrita”

Mas, ele continua postando e arrebatando corações. Tem até um ministro da corte que vai ler seu texto que alguém postou com o nome trocado de “Fernando Pessoa” e os bobos da corte vão rir dele, dizendo que ele não sabe nem pesquisar, pois “isso não é Pessoa” nem aqui e nem em Pequim!

E ele, o Pessoa, vai postar no seu Insta, uma quadrinha do seu amigo Bilac, que escreveu em os sonetos em Via Láctea. (Soneto número XIII de Via Láctea de Olavo Bilac)

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

Pura autoajuda!
Texto de botequim dirão os filósofos de plantão, parece letra de música popular brega!

Pessoa abraçado com Bilac ri lá de longe, onde as estrelas se encontram sobre a sua vila e diz:

“Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”

Alberto Caeiro em  – Universo 

Paulo Roberto Gaefke – escritor de autoajuda com muito orgulho!

 

O que é Autoajuda?

Autoajuda é uma palavra formada a partir de derivação prefixal, ou seja, é acrescentado um prefixo a uma palavra já existente, alterando o seu sentido. Neste caso temos o prefixo auto- mais o substantivo ajuda: auto- + ajuda. Auto é um prefixo com origem na palavra grega autós e significa si mesmo, si próprio.

A palavra auto-ajuda passou a ser escrita “autoajuda” desde a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, em janeiro de 2009.
Segundo o Novo Acordo Ortográfico, o hífen é utilizado quando o prefixo termina com a mesma letra que começa a segunda palavra ou quando a segunda palavra começa com h.
Exemplos: auto-observação, auto-organização, auto-higiene, auto-hipnose….

 

Fontes:

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). – 32.

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos

E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Alberto Caeiro – O Guardador de Rebanhos

Bilac e o Soneto Via Láctea
https://www.culturagenial.com/ora-direis-ouvir-estrelas-de-olavo-bilac/